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MARIA DA GLÓRIA SÁ ROSA
PROFESSORA - ESCRITORA
Nascida em 04 de novembro de 1927 em Mombaça, pequena cidade do Estado do Ceará, filha de Cleonice Chaves e Sá e Tertuliano Vieira e Sá, a menina recebera este nome em homenagem a Nossa Senhora da Glória - de quem a mãe era devota —, pois, durante o trabalho de parto, Dona Cleonice tivera diversas complicações e, para que a filha fosse salva, como forma de pagamento de promessa, atribuir-lhe-ia o nome da santa.
Ainda muito pequena, era inebriada pelo incentivo à leitura e aos livros. Os estudiosos Cristiane Brandão, Franciane Gonçalves e Thobias Bambil, em pesquisa sobre Maria da Glória relatam que “Embaixo de uma árvore linda nos fundos de casa, a menina aproveitava a sombra e deitava-se na rede para ler os livros de história, contos de fadas e fábulas infantis. Sempre que podia, estava ali.
Além da leitura, amarelinha e brincadeiras de roda eram suas preferidas. Estava sempre disposta a divertir-se com as irmãs e as primas”. Aos 7 anos Maria da Glória muda-se para Campo Grande, uma cidade do interior do Estado de Mato Grosso (ainda indiviso) para morar com seus avós Laurindo e Etelvina. Logo em seguida, seus pais viriam de Mombaça para a cidade juntarem-se aos demais membros da família.
Em Campo Grande, aprendeu a ser criança “à moda mato-grossense”: brincava pelas ruas de terra da cidade, fazia suas tarefas de casa e ia a Escola Ativa, cuja professora era Maria Constança Barros Machado a quem se inspirava e futuramente seria grande amiga e colega de trabalho.
A Família Chaves e Sá precisou retornar ao Ceará e, com isso, Maria da Glória foi estudar no Colégio Juvenal de Carvalho, um internato regido por freiras Salesianas e um lugar onde ela descobre sua inclinação para o uso da palavra e da escrita. Em relato a Cristiane Brandão, Franciane Gonçalves e Thobias Bambil, ela relembra das aulas de Redação ministradas pela Irmã Alzira, as melhores produções de texto eram premiadas e compunham um livro organizado pelo colégio.
Em 1939, retorna com a família a Campo Grande e passa a estudar no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. As aulas que assistia e a chegada da adolescência contribuíram para formar uma Maria da Glória social e culturalmente crítica e cada vez mais leitora e estudiosa. Com o término do Curso Ginasial (Ensino Fundamental), Campo Grande em 1942 não ofertava o Curso Clássico ou Científico (Ensino Médio) e, por incentivo da mãe, a jovem parte para São Paulo estudar no Colégio Santa Inês. Segundo Cristiane Brandão, Franciane Gonçalves e Thobias Bambil durante o Clássico, Maria da Glória afeiçoou-se à Irmã Maria José Duarte, professora de Língua Portuguesa e Olga de Sá, colega de classe com quem fundou um jornal literário escolar, o “Tic-Tac”.
Terminado o Ensino Médio, retornou mais uma vez a Campo Grande, onde ficaria por pouco tempo, pois seria aprovada no vestibular para o curso de Línguas Neolatinas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Enquanto estudava, começou a trabalhar como Professora Primária, porém, nunca deixou de cumprir suas obrigações universitárias e nem de ser participativa nas ações de pesquisa e extensão. Ela conta na obra “A Crônica dos Quatro” um pouco de suas experiências durante o curso na PUC-Rio: “Uma canção, o agito de folhas ao vento, a visão do antigo edifício trazendo de volta figuras presentes no espelho da memória. Foi o que aconteceu comigo, meses atrás, quando passei em frente ao prédio da antiga PUC Rio, onde fiz o curso de línguas neolatinas. No limitado espaço de quatro anos estive ao lado de pessoas que modificar o meu modo de ser e estar no horizonte dos corredores da sala de aula. De repente pareceu me rever Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athayde) chegando apressado para as aulas de literatura brasileira. Que prazer ouvi-lo mencionar seu relacionamento com Machado de Assis, que conhecer ainda menino. [...] Suas aulas eram verdadeiras lições de cultura.
A voz de Emília ressoa nas páginas do “Quixote”, nos versos de Garcia Lorca, nos poemas de Gabriela Mistral, que nos ligavam para sempre ao paraíso das terras hispânicas e latino-americanas. [...] Na intimidade era dócil, amiga, encorajadora, tanto que foi pensando nela que me tornei professora de Espanhol e incentivei a abertura do curso na UFMS.
Finalmente, com Barreto Filho naveguei para sempre nas águas de Marcel Proust. Para exemplificar o poder da memória involuntária, viajou conosco em muitas das aulas de Psicologia na prosa fascinante do grande romancista francês. [...] Esses três mestres ensinaram-me a encontrar na literatura uma razão de viver nas esferas do sonho e da felicidade interior. O que mais pode ser exigido de um professor, além de estimular os alunos a gostar de ler, a conhecer a essência das coisas, a saber aprender a respiração da vida, a descobrir na arte a felicidade?”.